O budismo ajudou-me muito a me tornar uma pessoa mais feliz, mais calma, mais tranquila, mais equilibrada.
E dentre muitas práticas, no budismo fazemos a meditação contemplativa que é a meditação com objetivo e focada em algo sobre o que queiramos meditar. A meditação contemplativa é o caminho de aprendizagem para nossa mente. Por esta via, nossa mente abre-se e assim alcançamos os resultados transformadores que desejamos.
Uma amiga minha comentou que a incomoda sua mente que pensa e pensa e pensa e não para de pensar. E sei bem o que é isso...eu chegava a ficar exausta de tanto pensar. Com a meditação me dei conta de que nossa mente, quando desgovernada, é como um cavalo selvagem que nos domina e nos leva para onde ela determine...sabe-se lá para onde. Lembro-me que muitas vezes, antes da meditação contemplativa, eu pensava sobre alguma coisa que tinha visto e quando via já tinha se passado sei lá quanto tempo e meu pensamento já havia vagado por inúmeras histórias, lugares e personagens reais e fictícios...era um horror. Algumas vezes perdi a parada da descida do ônibus, outras dirigia uns quatro quarteirões sem me dar conta nem de sinal, nem de cruzamentos, nem de nada... assustador!
Bom, voltando para a história de minha amiga, hoje ela comentou de novo sobre esse pensar e pensar e penssar em nada e em tudo por nada. Então resolvi tentar ajudá-la ensinando a meditação contemplativa. Só que tive que adaptar, porque no Budismo a usamos dentro de toda uma construção de pensamento filosófico de vida numa visão Budista, e como não acredito que impor a minha verdade para os outros seja "a verdade", tentei adaptar para quem não é Budista. No caso dela, católica. Então, pensei que seria interessante compartilhar com outras pessoas que busquem soluções para suas mentes incontroladas.
Aqui está:
Quanto a você pensar, pensar, pensar e nada producente e transformador em sua vida...pode lhe ajudar a meditação contemplativa. É ótima para pessoas que pensam demais.
A meditação contemplativa consiste basicamente em meditar sobre um determinado assunto. Não é deixar a mente em "branco" ou num "vazio". Vamos lá:
- já que você é católica, procure escolher um bom livro, ou boas mensagens, daquelas que dizem respeito a sermos seres humanos melhores. Mas nada que traga assuntos relacionados a pecado, castigo...coisas negativas não. Tipo: como desenvolver o amor fraterno; como desenvolver a solidariedade; como diminuir o auto-apego e o auto-apreço; como ajudar os outros a serem mais felizes...etc de preferência lições que nos voltem para as outras pessoas e não para nós mesmos nem para fazer nosso ego maior do que já é.
- no dia escolhido, sente-se em um lugar confortável, tranquilo, silencioso em que possa ficar sentada, com a coluna ereta e que ninguém a perturbe. Pode sentar-se numa cadeira ou no chão e, se quiser, com as pernas na posição de lótus. As mãos ficam sobre o colo voltadas para cima, a esquerda embaixo como na figura ao lado de Buda. O corpo deve ficar numa posição em que consiga ficar relaxado. Os olhos podem ser fechados sem força, desde que não apertados, ou meio que um pouquinho entreabertos.
Primeira parte: relaxamento (não precisa de música)
Primeiro faça um pequeno e fácil exercício de relaxamento por uns cinco minuto no início e aumente o tempo à medida em que for ficando mais fácil: relaxe todo o corpo, prestando atenção em cada parte e sentindo o relaxamento: primeiro a cabeça, o rosto, o pescoço, a nuca, depois os ombros (geralmente são os mais tensos junto com a nuca), as costas, o peito, os braços, as mãos, os dedos, a barriga, a pelvis, o bum bum, as coxas, as pernas, e enfim, os pés. Perceba seu corpo todo relaxado. Em seguida, preste atenção na sua respiração. Respire lentamente e focando sua atenção na respiração. Primeiro inspirando, devagar e profundo, prende um pouquinho a respiração e solta o ar devagar expirando, prende um pouquinho e repetindo várias vezes. Sempre prestando atenção somente na respiração...quando sua mente começar a vagar além da respiração é importante sempre trazer a mente de volta e somente à respiração para que sua mente vá aprendendo a ser comandada por você e não continuar como um cavalo selvagem que lhe domina. O tempo para esse relaxamento você é quem determina, conforme sinta-se bem. Se começar a cansar, é porque está na hora de parar.
Segunda parte: preparação
De olhos fechados, faça suas orações, escolha as que você acha mais bonitas, as que têm um sentido mais de ligação com o divino e com as criações divinas, e ore com fé, pensando e sentindo cada palavra. A oração não deve nem ser curta demais nem longa, mas o tempo suficiente para que se conecte com o divino e não se canse.
Obs: a ligação com o divino é importante por abrir nossos canais de transcedência que o mundo da lógica e da racionalidade do dia-a-dia exclui.
Terceira parte: iniciação à meditação
- em seguida, faça a leitura do texto que escolheu. Lembrando que a escolha deve ser de textos curtos de uma, duas, no máximo três páginas de livro por meditação. Leia, viajando pelo texto. Faça pausas nos parágrafos, medite sobre o pedaço que leu. Se o pensamento fugir para outros assuntos, volte a atenção para o texto. E de novo e quantas vezes forem necessárias. No começo isso acontece muito, mas com o tempo nossa mente vai aprendendo a ficar mais focada.
Quarta parte: a meditação contemplativa
- Quando terminar de ler o texto, deixe o material de lado, feche os olhos e ainda sentada com a coluna ereta medite sobre o que leu: qual foi o ensinamento? como aplicar na sua vida? o que você precisa melhorar em si mesma para conseguir aplicar o ensinamento em sua vida? Imagine você já exercitando o ensinamento no seu dia-a-dia, nas situações de sua vida.
Quinta parte: agradecimentos
- Ao sentir que seu tempo de meditação foi satisfatório encerre com uma prece de agradecimento a Deus por sua vida, pelos ensinamentos, a todos os seres vivos, porque de alguma forma ou de outra todos os seres vivos contribuiram e contribuem para que você esteja aqui e desenvolvendo sua caminhada, e pedindo-Lhe que esteja sempre lhe orientando e dando-lhe as ferramentas ncessárias para ser uma pessoa cada vez melhor e poder aplicar no seu dia-a-dia o que vem aprendendo.
Observações:
1) O tempo da meditação vc é quem determina para que não se canse. É importante não se cansar, senão seu inconsciente irá ter mais um motivo para boicotar a meditação no início. Então, comece com pouco tempo e vá aumentando na medida em que isso for lhe dando prazer, satisfação e bem estar.
Durante toda a semana após a meditação, sempre que puder, procure lembrar-se do assunto, o que foi o ensinamento e buscando no seu dia-a-dia oportunidades de poder aplicá-lo. Sinta-se de bem com a vida, com tudo que existe e perceba que a vida é um presente divino e que à sua volta há uma riqueza de vida imensa. São boas oportunidades de reforço da aprendizagem meditar novamente, relembrando o que aprendeu com a meditação enquanto caminha, lava a louça, toma banho, no ônibus, etc
Lembre-se: tudo na vida exige esforço e nada acontece da noite para o dia. Aprendizagem demanda foco no objetivo, tempo, esforço, paciência e aos poucos vai-se desenvolvendo sabedoria.
Parece muita coisa à primeira vista, mas na prática, o tempo de meditação será definido por você mesma e dependerá unicamente de seu esforço.
Com o tempo você verá que sua mente se acalma mais e segue seus comandos, com objetividade, trabalhando a seu favor e não como uma coisa sem controle que lhe domine. No começo nossa mente fica querendo boicotar nossa intenção mas com o tempo ela se acalma porque percebe os benefícios. O Budismo nos ensina que o caminho somente pode ser caminhado com esforço, concentração, disciplina moral (conduta reta sem moralismos falsos), paciência e sabedoria, que vamos desenvolvendo mais e mais à medida que avançamos.
Boa meditação!
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